A Mozilla, tradicional defensora da privacidade online, está no centro de uma tempestade. Em menos de sete dias, a empresa revisou duas vezes os Termos de Uso do Firefox após uma onda de críticas sobre cláusulas consideradas invasivas. Com base em novos documentos e declarações, mergulhamos no que mudou, por que importa e o que ainda preocupa especialistas.
A polêmica: da licença ampla às correções
A primeira versão dos Termos, publicada em 26 de fevereiro, incluía uma cláusula alarmante:
“Ao inserir informações no Firefox, você concede à Mozilla uma licença global, não exclusiva e gratuita para usar esses dados conforme seu uso do navegador.”
Para a comunidade, isso soou como um passe livre para coletar qualquer dado digitado no Firefox — desde mensagens em chats até documentos confidenciais. A pressão foi tão intensa que, em 7 de março, a Mozilla lançou uma segunda atualização, esclarecendo:
“Você concede à Mozilla os direitos necessários para operar o Firefox. Isso NÃO nos dá propriedade sobre seus dados.”
Mas a empresa teve que dar mais um passo: remover uma menção à “Política de Uso Aceitável” dos Termos, que gerava ambiguidade sobre o que seria considerado “conteúdo inadequado”.
“Queríamos ser claros, mas criamos confusão. Corrigimos o texto para refletir o limite do nosso acesso”, explicou Ajit Varma, VP de Produto da Mozilla.
Por que a Mozilla não pode mais dizer ‘nunca vendemos seus dados’?
Um dos pontos mais sensíveis está na atualização do FAQ de privacidade. Antes, a Mozilla afirmava categoricamente: “Nunca vendemos seus dados pessoais”. Agora, o texto admite que a definição legal de “venda” varia — como na Lei de Privacidade da Califórnia (CCPA), que inclui compartilhamento de dados por “benefício valioso” (não necessariamente dinheiro).
Traduzindo:
- A Mozilla compartilha dados agregados e anonimizados com parceiros para manter recursos como anúncios na Nova Guia e sugestões patrocinadas na barra de pesquisa.
- Usa tecnologias como OHTTP para mascarar informações, mas especialistas questionam: “Dados ‘agregados’ são realmente inofensivos?”
“Sem isso, o Firefox não seria viável comercialmente”, justifica Varma. Mas a pergunta que fica é: será que a sustentabilidade financeira está acima da privacidade?
Rastreamento e contradições
A crise atual não é a primeira da Mozilla. Em setembro de 2024, a organização europeia None of Your Business (NYOB) acusou a empresa de rastrear usuários via Privacy-Preserving Attribution — um sistema de análise de anúncios sem consentimento explícito.
Agora, a mudança nos Termos reacendeu desconfianças. Usuários notaram alterações no FAQ:
- Versão antiga: “O Firefox é totalmente gratuito. Nunca vendemos seus dados.”
- Versão nova: “O Firefox é super gratuito. Sem custos ocultos.” (a menção à venda de dados foi removida).
“É uma mudança sutil, mas simbólica. Parecem estar se protegendo legalmente, não aos usuários”, comentou um ativista de privacidade.
E o usuário? Como se proteger em meio às mudanças
A Mozilla insiste que o controle está nas mãos do usuário, com opções para:
- Ajustar configurações de privacidade durante a instalação.
- Desativar recursos como anúncios na Nova Guia, sugestões patrocinadas e chatbots de IA.
Mas há um porém: a maioria dos usuários mantém as configurações padrão, priorizando conveniência em vez de privacidade. Por isso, a Wolf Security recomenda:
- Revise as permissões em Configurações > Privacidade e Segurança.
- Use extensões como uBlock Origin para bloquear trackers e anúncios indesejados.
- Monitore atualizações — políticas podem mudar silenciosamente.
Para a Mozilla, o caminho à frente é estreito. Para os usuários, a mensagem é única: ler, ajustar e questionar. Afinal, sua segurança online depende menos das promessas das empresas e mais das ações que você toma para protegê-la.